Aos quatro pés e rostos

Anna Vitória
2 min readJun 20, 2024

--

Photo by Matthew Moloney on Unsplash

Quatro mãos, e duas peleadas para um grande getsêmani, a dor que me arriava o estômago era o bixo que me consumia a consciência.
É inevitável não acompanhar os quatro pés e as duas faces do meu erro, a época me concede a satisfação de banquetes em refeições periódicas e finjo não saber dos vermes enquanto os espreito, enquanto os alimento rebuscando um ou outro fio de memória, fazendo apelo aos mais funebres sentimentos.
Ao par dos pequenos maus costumes e frente a uma beleza superior a qualquer romance que um dia o mundo viu, tenho a invisível presença de um tilintar fabuloso, a sensação de que o corpo está indo para onde a mansidão habita e os sonhos se adaptam a realidade como quem dorme em cama de gato gigante ou em cabanas no meio do mato, como a paz de um homem morto.
A senhora no retrato e um pássaro na mão, a viola no regato e uma sanfona quente, os triles e trales de uma pele branca para uma cabeça burra em face condizente. Não cedem para o paraguaio, não compram a paciência e nem a própria mentira, não oculam minha vida nem vitrines gloriosas. No entanto, a alma continua observando o que um dia os olhos viram e amargo é o baixo preço das coisas valiosas que não se pode pagar com dinheiro.
Eu não tive escolha, pensei enquanto decidia e depois de concretizado vi em todo canto o que me foi oposto. A noite amanheceu e o sol nunca chegou para acordá-lo, sendo o mesmo dia e os mesmos horários para mim. No entanto, houve por certo um xilili de que o amanhã pararia de correr e tive a esperança duvidosa de que alguém o alcançaria, talvez eu… Mas nada o tocou além dos sonhos que outrora tive e passaram a ser de outro e o ouro de outra.

--

--

Anna Vitória

Pianista e musicista, escritora e compositora, triste e feliz, e um pouco mais ou menos que isso aí. @anna_siqueira10