Eu nunca mais escrevi.
Eu nunca mais escrevi, na verdade, até tenho digitado algumas palavras. Eu venho amontoando significados em parágrafos sobre parágrafos diariamente, mas esse agora é o meu trabalho.
Logo eu, que sou pseudo inteligente, tenho escrito constantemente e também tenho revisado textos alheios o que me causa grande infortúnio, ainda que muito bem componha o meu salário.
Tenho escrito de tudo um pouco, sobre esportes, identidade cultural, filmes, livros, geografia, guerras, receitas culinárias, viagens, doenças e até mesmo sobre beleza e moda.
Descobri como é composto o banco de dados de uma IA e foi muito bom ver na prática como esses aplicativos de inteligência artificial são criados e como eles estão se tornando cada vez melhores, por causa do trabalho de humanos, (alguns mais infelizes do que eu).
Bom, a verdade é que… Eu esfriei. Escuto aquelas músicas e faço o mesmo trageto pelas tardes, andando. Eu vejo meus alunos e os amo profundamente, eu os amo tanto…
Domingo eu percebi que também amava o coral, foi na conferência, quando eu finalmente consegui tocar o bendito “Olhai os lírios do campo” sem que meus dedos embolassem pelo piano. Foi lindo, e eu sabia que estava exatamente onde queria e onde deveria estar.
Falta alguns dias pra Junho, semanas atrás isso parecia tão distante… Tenho a sensação de que eu nunca mais escrevi desde o término do meu último relacionamento, sim, eu tenho escrito, sei disso. Mas, não estou convencida de que escrevi algo real, algo que não pareça ter sido gerado pelo chatGPT ou qualquer outro app de inteligência artificial.
Eu não tenho medo de escrever, sabe?! Mas, eu mudei um pouco minha perspectiva sobre o que vale minhas palavras e, apesar de não me assombrar a ideia de ortografar, tenho um receio absurdo de ser lida.
Há quem me interprete mal e há quem bem perceba profanidades que por mim já foram cometidas, só por que eu sempre escrevia, só porque eu queria tanto, só porque parecia já ter sido me dado, e não deveria ser assim, o amor é sagrado.
