O meu pesadelo na Netflix.
Em Setembro do ano passado, foi lançado uma série do caso criminal de Dahmer, e embora a história do assassino em série com inclinação gastrônomica duvidosa já tenha sido retratada diversas vezes, é inegável a qualidade e o sucesso da obra produzida pela Netflix.
No entanto, apesar do bom uso das cores, iluminação, atuação, roteiro e etc… Eu não consegui passar do terceiro episódio, aterrorizada completamente com uma única coisa: A romantização escancarada de um Serial Killer.
Para alguém que ficou um ano longe do show business, foi assustador descobrir que era esse tipo de coisa que andava bombando nas paradas, literalmente, só se falava disso em todos os lugares da internet. E eu lembro de alguns diálogos arrepiantes entre pessoas que assistiram a série e se emocionaram com os capítulos e eu fiquei me perguntando… “Tá, você achou triste, e realmente é triste, mas pra quem? Para as vítimas e seus familiares ou para o Dahmer?”
É desesperador como choveu cortes da série no Tik Tok e nos Reels mostrando Dahmer como vítima, injustiçado, alguém com problemas familiares, dificuldades para se encaixar na sociedade e que enfrentava problemas com a homofobia dos anos 80.
É sério?! Hoje eu me deparei com um vídeo desses no youtube, não sei como e nem porquê, mas me fez revirar o estômago novamente, como a indústria cinematográfica pode pegar um vilão da vida real, colocá-lo em uma posição que não lhe pertence e tantas pessoas simplesmente comprarem essa história?!
A maioria dos episódios parecem se concentrar nas dores e frustrações do Dahmer, e isso não seria um problema, não seria mesmo um problema se não fosse extremamente ruim para aqueles que realmente sofreram por causa dele. As vítimas do assassino canibal, podem ter tido desafios de adaptação na sociedade durante a adolecência, problemas familiares, dificuldades causadas pela homossexualidade, e ainda assim, seriam mortas por um cara que nem sequer foi diagnosticado com psicopatia, ele simplesmente fazia coisas do mau mesmo e é exatamente essa a problemática que me perturba na série e nas conversas de pessoas que gostaram de assistir.
Gostaria de deixar bem claro que, os três episódios que vi foram suficientes para que eu ficasse uma semana me sentindo mal comigo mesma e de algum modo, desassociada da realidade. A sombriedade de Jeffrey Dahmer é uma coisa literalmente inexplicável, mas se tem uma coisa que é muito bem explicável e clara, é a completa falta de empatia e senso dos produtores de “Monster: The Jeffrey Dahmer Story” e todo esse pessoal que compactua com a linha de pensamento apresentada na série. Ainda que Dahmer seja humano, é melhor que um homem se lasque do que um grupo inteiro seja prejudicado por suas ações e é isso que deveria ter sido retratado, é por isso que existem leis e julgamentos, e é o que as pessoas deveriam ter em mente quando assistem algo como a série em questão. As circunstâncias da vida de uma pessoa nunca devem justificar sua maldade, e apesar da Netflix não ter sido obrigada a fazer a série ignorando esse detalhe, é muito estranho que tantas pessoas tenham caído nessa armadilha, é um verdadeiro pesadelo moral e ético mas, pelo menos a euforia pelo assunto já se passou faz tempo e isso é só mais um detalhe nostálgico do dia, um desabafo que ainda não havia colocado pra fora, mas, tenho dito agora.