O porto

Anna Vitória
1 min read4 days ago

--

Photo by DCL "650" on Unsplash

Tudo era certo e em meu peito o coração batia em certezas, ditando o ritmo de uma direção contrária ao rio e suas correntezas.
Onde eu navegava feito pirata, feito negreiro, timoneiro… E beirando o naufrágio de um barco gélido para uma moça como eu, só restava a esperança no brilhar das estrelas.
Apoiando-me assim nos troços flutuantes do que um dia foi um barco, não quedava-me os esforços para alcançar o porto, nem me entregava ao carrasco, convites de calaveiras.
E depois de tanto nado torto e cansado, cheguei. Mentira, cheguei porcaria nenhuma. Afundei, tomei água podre de rio como quem não sabe nadar, e só depois de uns engasgos e um quase óbito por afogamento decidi que era melhor flutuar, e flutuando entrei na nóia de compreender a linguagem das águas e seguindo sua fluência acheguei-me a um areado vazio no meio da noite e adormeci bem na beira, e quando amanheceu consagrei o dia para continuar a jornada até chegar ao porto, e assim tem sido o dia de uma vida inteira.

--

--

Anna Vitória

Pianista e musicista, escritora e compositora, triste e feliz, e um pouco mais ou menos que isso aí. @anna_siqueira10